Entre o negativismo extremo e o otimismo controlado
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A Fundação Centro Cultural de Belém decidiu discutir o futuro do Jornalismo português, após o apelo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Durante dois dias vão existir sete debates, com algumas das maiores figuras do Jornalismo em Portugal – e o 8ª Colina vai acompanhar todas as sessões. O quinto debate contou com a presença de Edson Athayde, João Miguel Tavares, Mafalda Anjos, Nuno Santos, Paulo Pena e Vicente Jorge Silva com Sílvia Caneco a moderar. Não deixámos escapar algumas das melhores citações sobre um dos dilemas do Jornalismo: dá-se a leitor, ouvinte e espetador aquilo que ele quer ou aquilo que os jornalistas julgam de que o público precisa?
João Miguel Tavares
“É evidente que todos sonhamos ter na nossa rua o New York Times. A questão é sempre fazer o melhor jornal possível com os meios que temos.”
“Acho que o Jornalismo que existe hoje é melhor que o de há dez anos. O problema é juntarem o negócio com o Jornalismo.”
“Aquilo de que sinto falta no jornalismo é a paixão. Mas aquilo que faz falta, essencialmente, é melhores gestores e não melhores jornalistas.”
“O Jornalismo de referência não precisa de ser salvo.”
“A quantidade de gente informada hoje é imensa. Mas o número de pessoas que aprofunda talvez seja igual ao que era há 30 anos.”
Mafalda Anjos
“Saber o que é que as pessoas querem é sempre um dos maiores desafios de um diretor. Hoje em dia ninguém sabe o que é que as pessoas querem ler.”
“Os jornalistas vivem com um sentido de missão, com o espírito de fazer bem, mas o modelo de negócio ainda está por se perceber. A quebra enorme de venda em banca e em receitas comerciais ainda não foi compensada pela receita que temos em venda digital.”
“Eu não duvido de que se faça Jornalismo de qualidade em Portugal. Mas quem é que vai pagar este Jornalismo que somos capazes de fazer? Acho que não há outra forma: as pessoas têm de pagar por ele.”
“Eu estou convencida de que o Jornalismo de qualidade vai passar a ser um produto de nicho. Vai ser cada vez mais baseado em assinaturas.”
“Como indústria, cometemos o gigantesco ato de kamikaze de dar os nossos conteúdos na Internet como se eles não tivessem valor.”
Nuno Santos
“É evidente que os média públicos têm uma responsabilidade diferente dos média privados. Enquanto cidadãos, podemos pedir à televisão e à rádio públicas uma responsabilidade que os privados não precisam de ter.”
“Quando falamos da televisão, a maioria das pessoas tem a ideia de carregar num botão e estar lá alguma cosia. Mas a verdade é que é cada vez maior o número de pessoas que procura um tipo de conteúdo e o consome. Esta é a indústria que mais se transformou nos últimos anos.”
Paulo Pena
“As coisas interessantes têm sempre um lado bom e um lado mau. Nós temos de aceitar algo que as pessoas já perceberam há muito tempo: a informação é livre. Já não é um mineral raro. As pessoas compram-na por dever cívico e por sentimento.”
“Chegamos a muita gente, mas chegamos de uma forma completamente anónima. As pessoas não sabem onde viram aquela informação. E isso é um problema para as redações.”
“Já não podemos contar com as vendas diretas aos leitores. Podemos fazer boas histórias, mas o compromisso e o feedback nunca vão ser tão grandes como eram.”
“Há muito mais trabalho para muito menos gente. A maioria dos jornais portugueses publica em média 200 histórias por dia.”
Vicente Jorge Silva
“As duas coisas intercruzam-se: não é só aquilo que as pessoas querem, porque não nos podemos submeter ao apetite populista; por outro lado, o jornalista não pode estar no seu trono a dizer ‘o povo precisa de ser educado’.”
“Acho que o tempo da informação mudou. Quando fizemos o Público foi porque vimos que o ritmo diário não se adequava ao ritmo de um Expresso.”
“Hoje em dia, é muito difícil viver só com o produto em papel. Para quem o quer defender, é mais fácil resistir na barricada do semanal e do mensal.”
“Nós vivemos num país com um mercado muito escasso e uma literacia ainda grande.”
“Outro facto que me causa ansiedade é que, com a diversidade de suportes, os jornais são cada vez mais mal escritos. Hoje há meios cada vez mais precários para assegurar qualidade.”
Edson Athayde
“Se quem está a construir um jornal não sentir a vontade de contar uma história e um princípio de qualidade, nada pode acontecer. O publicitário meramente vai ajudá-lo a realizar as suas propostas.”
“Às vezes pensam ‘vamos fazer um novo design e as pessoas vão ler novamente’. As pessoas lêem uma vez, veem que está igual e não voltam a ler“
O 8ª Colina está a acompanhar todos os debates sobre o Futuro do Jornalismo, durante os dias 6 e 7 de abril, no CCB.
Artigo escrito em conjunto por: Gonçalo Taborda e Magda Cruz