Jamal Khashoggi, um guardião da verdade
Ana Narciso | Posted on |

(Erdem Sahin/EPA)
Jamal Khashoggi foi um forte símbolo do Jornalismo em luta pela verdade. Por fazer frente aos poderes autoritários, a revista Time escolheu o jornalista, a par de outros repórteres também protagonistas nesse combate, para figura do ano de 2018
Depois de ter sido assassinado de modo bárbaro, a 2 de outubro de 2018, atraiu a atenção do mundo. A Time foi um dos órgãos de comunicação a lhe dar destaque e incluiu Khashoggi, a par de outros repórteres, nos “guardiões da verdade”. O jornalista da Arábia Saudita ganhou uma notoriedade que nem em vida tinha.
O assassinato deste jornalista saudita, atraído para uma armadilha por um esquadrão de 15 matadores, que têm sido relacionados com o poderoso príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman (MBS), põe em discussão muitas questões: até onde é capaz de ir o poder de um Estado para silenciar um crítico? Quanto vale a vida de um jornalista? A par disso, quanto valem os negócios de Estado para que, perante um crime brutal, se faça de conta que nada de importante aconteceu? Quanto vale o evitar apurar responsáveis de topo pelo assassinato que indigna o mundo?
Tornou-se crítico dos métodos do poder na Arábia Saudita, país onde nasceu. Khashoggi era tão influente que ganhou acesso aos fechados palácios reais sauditas. Afastou-se e assumiu-se crítico perante a fulgurante chegada ao poder de MBS.
Quem era Khashoggi?
Jamal Khashoggi era um jornalista e analista influente. Depois da formação inicial, na Arábia Saudita, Khashoggi foi estudar para os Estados Unidos, onde obteve um diploma de bacharelato na Indiana State University, em 1983. Após obter o diploma, entre os anos 80 e 90, cobriu conflitos armados no Afeganistão, na Argélia e no Kuwait. Foi também um dos poucos jornalistas que tiveram a oportunidade de entrevistar Osama Bin Laden após lutarem juntos, apoiados pelos Estados Unidos, contra a invasão da Afeganistão pela União Soviética.
Teria completado 60 anos no dia 13 de outubro. Mataram-no onze dias antes.
Khashoggi esteve à frente de influentes jornais árabes como o Al-Arab e Al Watan. Há dois anos, escolheu passar a viver fora da Arábia Saudita para poder escrever livremente sobre assuntos relacionados com o seu país. O jornalista chegou mesmo a explicar numa entrevista que “o ambiente na Arábia Saudita não permite críticas ou debates construtivos.”
Era, no último ano, comentador no Washington Post e são muitos os artigos da sua autoria que podemos ler para termos uma ideia mais ampla de qual era a sua posição acerca do regime. Eram críticas na sua maioria, sim, mas este referiu várias vezes não ser contra o regime e apenas se limitar a apontar o que considerava não ser o melhor. A falta de liberdade de expressão no seu país era a denúncia mais frequente que fazia.
Khashoggi, não sendo um dissidente, era crítico dos métodos do príncipe herdeiro. Chegou até a escrever no Washington Post que o MBS dava início a uma era de “medo, intimidações e prisões”. Deduz-se que, ao escrever isto, estava a assinar a sua sentença de morte.